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Uma cidade plural

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Marcos Fábio

Há sempre uma tendência para se minimizar a avaliação sobre alguém ou alguma coisa. É o tal do pensamento indutivo. É a tal da metonimização. Fazemos isso todo o tempo. No caso de Imperatriz, a segunda cidade do Maranhão, que neste dia 16 (terça-feira) faz 161 anos de fundação, os nominativos são sempre na busca da singularização. É a cidade da violência. É a cidade da música sertaneja. É a capital do futuro Maranhão do Sul. É a capital da energia. É a terra das oportunidades da região tocantina. Antes de ser de uma cara só, a cidade é todas essas e muitas outras, porque a cidade é plural.

A melhor definição de Imperatriz é a de cidade-mosaico. Aqui tem tudo. Música: tem sertanejo, tem arrocha, tem forró. Mas também tem MPB de ótima qualidade, tem música clássica, tem música gospel, tem regue. Teatro: tem comédia pastelão, comédia patifaria, humor, clássicos, espetáculos de dança – tudo acontecendo no único teatro da cidade, o Ferreira Gullar. Gastronomia: tem das tradicionais panelada, galinha caipira e carne de bode até uma culinária mais cara, que habita os restaurantes mais requintados (não são muitos, mas são bons). Religiosidade: muitas igrejas, para todos os credos, de todos os matizes e todos os deuses.

Tem também um povo altamente misturado, fruto da migração que veio com a abertura da Belém-Brasília e nunca mais parou. Gaúchos, goianos, paraenses, paranaenses, mineiros, cariocas, paulistas, cearenses, mato-grossenses, tocantinenses, pernambucanos. Do próprio Maranhão, gente de quase todos os municípios. De fora, árabes, libaneses, coreanos, italianos, portugueses, espanhóis e mais não sabemos.

Difícil é encontrar um imperatrizense genuíno, “do pé rachado”, como se diz por aqui. O resultado dessa miscelânea fenotípica a gente vê todo dia, sob o sol escaldante, zanzando pelas ruas com nomes de estado, em carrões, motinhas, bicicletas, cavalos ou a pé, atravessando displicentemente fora da faixa.

É uma cidade em que a diferença de renda também se mostra, ostensivamente. Muitos dizem que é a terra onde há mais carrões 4x4 do país. Também dizem que é terra onde tem mais pedintes na noite, pelos bares, nas portas dos bancos, jogados nas praças. Os condomínios de luxo convivem com os casebres. Os condomínios fechados se incrustam pelos bairros da periferia. Apartamentos de quase 1 milhão de reais proliferam, assim como as casinhas do PAC. As lojas de grife estão a poucos quarteirões das lojinhas de mercado, com produtos de Caruaru.

Há também a multiplicidade de sentimentos em relação a ela. Há os que a amam incondicionalmente. Há os que amam mais ou menos. Há aqueles que, migrantes, não se reconhecem parte dela e nutrem por ela uma indiferença pragmática. Há os que dela não gostam. Há os que apenas a suportam. Há os ainda que a odeiam, que na primeira chance se verão fora dela e livres – esse é o sentimento, quase físico, que esperam sentir.

Imperatriz é isso. Como toda cidade, um misto de muitas e muitas coisas. De muitas e muitas outras. Por isso é que todo epíteto é frágil.
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