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Isadora Barbosa: Conflitos do Ego

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Isadora Barbosa

Não sou boa para falar. Acho que sempre fui melhor para escrever, mas às vezes também acho que não. Não sei, sempre fui assim: confusa, tenho a voz baixa, preciso me esforçar para ser ouvida e se grito demais fico uma semana com dor, mas ao invés de a dor ser na garganta é na alma e no coração. Mais ou menos como estou agora. Com muita, muita dor na alma.

E não é porque eu não tente falar, ou não tenha coragem. É porque eu choro. Detesto isso em mim! Consigo fingir um sorriso quando falo as coisas para os outros, mas eu choro quando preciso falar as coisas para mim mesma. Claro que nisso não inclui a minha vida profissional. Nesta eu sei falar, falo muito bem, dou até cursos e palestras se preciso for. Mas não é deste falar que eu estou "falando", por mais estranha que pareça a frase. É o falar dos sentimentos, da alma e sei que isso não é exatamente fácil para ninguém.

Deve até ter uma pessoa ou outra que faz isso de uma maneira super Manuel Carlos, mas acho que a maioria pensa dez vezes antes de abrir a boca. Falar de sentimentos é muito complicado. Falar de sentimentos expõe as suas feridas, aquelas que você tenta esconder até de si mesma. O poder da palavra é alto, é grande. Basta lembrar de alguma coisa que seu pai ou mãe lhe disse na infância ou adolescência que te magoou. Lembra? Pois é, este mesmo. As palavras podem ainda ecoar dentro de você como no exato instante que aquilo aconteceu. Elas são as palavras mudas mais duras, mais cruéis, mais sem sentido. E para você elas podem ainda soar tão alto como naquele dia.

Sei muito bem disso, e como sei! E sim, temos medo do nosso enorme poder nas nossas palavras. Palavras escrevem o sentimento no ar, perpetuam. Posso lembrar de algo que me disseram há anos e sei que posso dizer coisas que façam os outros lembrarem disso para sempre.

Sim, tenho medo da reação das pessoas. Tenho medo de expor coisas que são tão minhas que doem em sair. Falar é como um parto: dolorido, sangrento, cheio de gritos de horror. Palavras mal ditas são veneno puro. E claro que todos nós dizemos coisas das quais nos arrependemos e, principalmente, pensamos coisas das quais nos arrependeremos. E não queremos nos arrepender. Não queremos, principalmente, que os outros não nos amem mais. E não queremos, principalmente, ouvir da boca do outro aquilo que pensamos ser verdade sobre nós mesmos.

Mas aprendi uma coisa: Não é o que você fala, mas como você o faz. Com que segurança, com que maestria. Admiro pessoas que sabem usar as palavras como políticos. Por mais que alguns desses, muitas vezes, as usem para o mal.

Então, eu encontrei a escrita. A palavra escrita não tem o poder da palavra falada e dói menos. Parece que quando não escutamos a nossa voz dizendo aquilo, não fomos nós que falamos. Parece que se está escrito, não é tão verdade, ou é uma verdade mais profunda e mais pensada. Mera ilusão e, um conselho: Nunca mande uma mensagem antes de 24 horas depois de escrever, principalmente se está com raiva da pessoa. Porque talvez dentro de você exista uma agressividade ferrenha e uma língua felina querendo sair. Talvez exista alguém que pense demais, que sinta demais, que doa demais e que quer jogar isso tudo em cima de alguém para ver se param de doer essas nossas feridas profundas, mágoas, faixas que circulam e que querem só ser libertadas.

Não sei falar de pouco. Sou pessoa de muito! E talvez tenha optado, em algum momento, pelo silêncio. O silêncio que não cura a minha dor da alma. Um silêncio que me mata aos poucos, e que não faz questão nenhuma de falar. Quero falar. Só não encontro um jeito de fazer isso sem meu coração sofrer e chorar.
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