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Um presídio chamado alma

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Isadora Barbosa

Alguém aí já se sentiu preso? Ou já esteve em uma prisão? Eu já estive, talvez até ainda esteja, mas não estou falando das prisões reais. Existem prisões muito piores e nós estamos o tempo todo dentro delas. A prisão que é o medo; a prisão da raiva, que te deixa cega. A prisão da vítima, que te faz se sentir um lixo, morrendo de pena de si mesma, enfim, as prisões psicológicas que são as mais cruéis.

Prisão da Alma
Uma vez li que você pode aprisionar um homem, mas não pode aprisionar sua mente. Será? Não acredito nisso. Cada vez que uma mulher linda, numa capa de revista te fuzila com seus quadris estreitos e pele de pêssego, ela está te aprisionando. É como uma sereia: ela te encanta para te levar com ela e está presa, no fundo do mar da vaidade infinita. E lá vai você gastar os tubos com academia, botox, maquiagem, batom, perfume, para se sentir, parecer ou achar ser um pouco mais bela e mais digna do mundo.

Cada vez que você se compara a alguém, está se afundando numa prisão suja e mal cheirosa. Cada vez que se coloca como alguém que é menos, está dizendo a si mesmo que "não, você não pode". Você não pode sair da lama. Você não é digno do sucesso, não é como "aquele cara" ou "aquela mulher". Não tem o que eles têm. Não é o que eles são. O nome disso é a prisão da inveja.

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E tem a prisão domiciliar. Aquela que prende você em casa sem a menor vontade de fazer nada da sua vida, justamente porque se comparou, invejou, se envaideceu demais para sair para a vida e ser quem você é. Tem os parentes, os pais, os filhos, o cônjuge que está lá, o tempo todo te olhando, te julgando, te dizendo que você é, no fundo, uma grande porcaria. E você lá, na prisão de culpar os outros. Sou assim porque a minha mãe não me ama; sou assado porque meu pai não me apoia; sou esquisita porque não gosto de ver a juventude se acabando na vulgaridade ou não escuto forró nem swingueira...

Liberdade, então, o que é? É ser você, do jeitinho que você é, e aceitar isso. Mas isso é complicado! Neste caso, é mais fácil se manter na prisão. Conhecem a história dos prisioneiros que passam tanto tempo no presídio que, quando saem, a primeira coisa que fazem é cometer um crime para voltar para lá? A prisão é confortável! A prisão você conhece, é sua amiga e companheira de velha data. Ela te alimenta, ela te conforta, ela te faz sentir alguém, alguma coisa, mesmo que ruim. Lá fora, ser livre é muito perigoso.

Na liberdade você precisa ser totalmente, completamente, absolutamente responsável por si mesmo. Lá fora é o mundo cão. Lá fora é você por você mesmo, não tem amigo, não tem ajuda, não tem nada. Só a sua liberdade, as suas reais escolhas e você dentro de você.

E lá fora é confortável? Lá fora é a real e verdadeira paz. Mas é preciso se libertar, primeiro lá dentro, de tudo o que te incomoda: da vítima, do carcereiro, de todas as suas amarras psicológicas, dos "eu não posso", "a culpa é dela", "eu não tenho nada com isso", "eu não tenho culpa de nada"... É preciso parar de perseguir-se para começar a acolher-se. É preciso ser livre, antes de tudo, da sua própria verdade e da sua mente. E depois disso, só depois disso, você poderá dizer que sabe perdoar as pessoas e o mundo. Antes de isso acontecer, tudo o que você disser é mentira!
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